Por Inês Pereira Silva, em blog
O meu trabalho é apoiar as pessoas a perceberem que a maior prisão não tem grades, não tem muros e, muitas vezes, nem sequer tem um carcereiro visível. O que nos prende são as ideias que aceitamos sem questionar, os medos que nos passam de geração em geração como se fossem heranças de família, as expectativas que nos dizem como devemos viver para sermos aceites.
Falar de um tempo sem "amos" não é sobre uma revolução barulhenta nas ruas (embora não haja nada de errado com uma boa revolução, desde que bem organizada). É sobre algo mais subtil, mas infinitamente mais poderoso: libertarmo-nos internamente. Porque não há mudança coletiva sem uma transformação individual.
A história prova-o vezes sem conta. Sempre que uma sociedade se empoderou, foi porque os seus indivíduos se permitiram, primeiro, questionar o que lhes diziam ser inevitável. A queda dos impérios, o fim das monarquias absolutas, a conquista de direitos civis — tudo começou porque pessoas, uma a uma, se recusaram a continuar a viver como lhes diziam que deviam viver.
Mas há um detalhe importante: empoderar-se não é só dizer "não quero amos", é assumir a responsabilidade de viver sem eles. E isso dá trabalho. É muito mais fácil apontar o dedo a quem nos governa mal do que governarmo-nos bem a nós próprios. Queremos autonomia, mas às vezes ainda gostamos da ilusão de que alguém nos venha salvar. E enquanto estivermos à espera de um "líder perfeito" que resolva tudo por nós, continuamos a entregar o nosso poder.
Agora, imaginem uma sociedade inteira que se recusa a ser governada pelo medo, pela culpa ou pelo conformismo. Uma sociedade que não precisa de amos porque cada pessoa sabe que tem o direito e o dever de decidir o seu próprio caminho. Isso seria verdadeiramente revolucionário. E mais assustador para os que vivem do poder do que qualquer golpe de Estado.
Por isso, a pergunta que temos de fazer não é "como mudamos o mundo?", mas sim "como mudamos a forma como existimos nele?". Se cada um de nós se desmarca do que o aprisiona, se nos empoderamos a nós próprios, então estamos a construir algo maior do que qualquer sistema já estabelecido: uma sociedade realmente livre. E uma sociedade empoderada não precisa de amos. Precisa apenas de consciência e coragem.
E, para mim, empoderar-me é isso: fazer a minha própria gestão de tempo e ter a audácia de ser quem sou, sem pedir desculpas por isso.
28 de março 2025
Inês Pereira Silva

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