Avançar para o conteúdo principal

(Artigo) Reflexões sobre o Livro após um ano do lançamento - pelo próprio. Apontamentos sobre discussões manifestadas - esclarecimentos

Por Pedro Selas, em Blog.

(descarregar versão .pdf)

ÍNDICE

1. PONTO PRÉVIO: PORQUE ESCREVI UM LIVRO 
2. INTRODUÇÃO
3. VISÃO
    3.1 LINGUAGEM
    3.2 TRANSDISCIPLINAR
    3.3 EMANCIPATÓRIA
    3.4 HORIZONTALIDADE
    3.5 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO I
4. SOBRE
    4.1 DIGNIDADE E EXCLUSÃO SOCIAL
    4.2 EDUCAÇÃO E CONHECIMENTO
    4.3 ECONOMIA E TEMPO
    4.4 CRIME E (RE)INTEGRAÇÃO
    4.5 SAÚDE MENTAL
    4.6 NATUREZA E SUSTENTABILIDADE
    4.7 RELAÇÕES INTERNACIONAIS
5. PRÁXIS E CONCLUSÕES
6. DISCUSSÃO DO LIVRO PÓS-LANÇAMENTO: BREVES APONTAMENTOS
    6.1 TÍTULO: PRESIDÊNCIA E PAÍS - ESTADO
    6.2 DE CIMA PARA BAIXO / DE BAIXO PARA CIMA - HORIZONTALIDADE


1. PONTO PRÉVIO: PORQUE ESCREVI UM LIVRO?

Acredito que não tenha descoberto nada, nem especial nem sem ser especial, nada mesmo, nem nada que se pareça com uma espécie de teoria que ao lermos sejamos salvos por ela. Se é certo que, até 2022, já tinha lido muitos textos, alguns livros, tinha tirado apontamentos, em texto, quer pelos cursos que fui frequentando, informática, direito, relações internacionais, criminologia, mais umas aulas e uns cursos online, mais toda a descoberta informal em busca de matar a curiosidade ou ansiedade, os registos disso, dos meus próprios registos e sublinhados, pequenas sínteses nas redes sociais, na maior parte das vezes provocatórias, o meu olhar sobre o meio que me cerca, o sentir, às vezes como posso, como deixam, enfim, pensei se podia, ou não, ou se merecia, ou não, cristalizar algo em formato tipo livro.

Para além das situações de facto, chamemos-lhe assim, de vida, de ter estado lá no tempo e no espaço, e se calhar noutras dimensões não tão cognoscíveis, e ter visto, ouvido e sentido o que se passava, todos os pensamentos que tive após esses eventos, houve vários livros que me impactaram, um deles, muito pequeno: “Educação de Portugal” do Agostinho da Silva, que de certa forma me legitimou a fazer algo com poucas páginas.

Algo me incomodava, e outras coisas me vão incomodando, quer o silêncio sobre a excepcionalidade da candidatura presidencial nacional a nível internacional (dentro desta estrutura disciplinar - como veremos mais a frente - (3.3) EMANCIPATÓRIA(4.7) RELAÇÔES INTERNACIONAIS, (5.) PRAXIS E CONCLUSÕES(6.1) TÍTULO: PRESIDÊNCIA E PAÍS - ESTADO), uma vez que não passa por descendência monárquica nem, em abstrato, precisa do crivo ou filtro partidário, quer como isso parece poder transfigurar a luta das pessoas, dos coletivos, das associações, das escolas, da saúde, dos transportes, das comunidades, da governança, da gestão, da produção, do tempo. Enfim, em todo o lado, em torno de um novo ser e estar em sociedade, ou em comunidade, numa fase, digamos assim, em Portugal, alastrando para onde se perceba português, e em toda a parte do mundo, sem grande rigor na questão fronteiriça. Desconforto também pelo meu cada vez maior deslocamento, ou excessiva incapacidade de assumir regimes, disciplina, técnica e ideologia, moral, capital ou estado. Irei, tanto quanto possível, aprofundar estas ideias mais à frente.

No processo de compilação e escrita debati-me com esta precisa ideia: cristalizar um texto. Isto face à oralidade, à informalidade e a outro tipo de expressões. Dou muito valor à oralidade, e falo do paradigma da comunicação como forma de esclarecimento e conhecimento. Num certo sentido, achava meritório, achava que queria ser entendido, gostava que a gente tivesse luzes ao lê-lo e, se possível, fomenta-se conversas posteriores.

Por outro lado, essa ideia de cristalizar um escrito também me ia empurrando, eu estou em constante mutação, transformação, quer material quer imaterial, quer para lá disso, eu não quero fixar, conservar, ter a verdade, ter a razão. As ideias vão seguindo um caminho, é certo, mas vão caminhando, vão se deslocando, parece, alguns desses caminhos também fazem companhia neste.

Ainda assim, achava que, como o queria fazer, ainda pouco circulava, um livro que falasse de assuntos sérios, densos, um livro de luta, sem a menor dúvida, aspirante a fácil compreensão. Ao mesmo tempo que cristalizava essa imagem da presidência, discorri sobre umas ideias que me pareciam pertinentes. Numa tentativa de fugir a regimes, visões disciplinares, rígidas, ou ortodoxas, sujeitando-me portanto a ser visto como algo que não se assume, não sei, algum tipo de troll, mas assumindo-me, de alguma forma, estando aqui.

Podia também o livro, ou tentar, face à oralidade, suprir o seu silêncio incómodo, ou complementá-la com sua acessibilidade. Ou até, deixem-me vos ser honesto, noutro plano, uma certa disputa divorciada da vaidade intelectual, mas ao mesmo tempo colocar-me numa posição de sim, eu posso, eu sou sujeito, sem editoras também. Acho que não sou eu o impostor. Mas é só um livro, digamos. E não pretendeu algo como uma doutrina, ou regime, nem sequer se coloca em questões heterodoxas ou ortodoxas, parece-me que está para lá desses regimes ou estruturas dicotómicos.

[voltar ao início]

2. INTRODUÇÃO

A releitura, ao final já de quase um ano, da introdução parece trazer um sentimento, de que se tudo correr bem, se tudo correr normal, não haverá alterações significativas ao estado das coisas e elas podem mesmo piorar.

Fez-me lembrar o Rio de S. Pedro de Moel, que era o salário - mas parece muitas outras coisas também -, nas palavras do José Mário Branco: 

"Que se some nas areias em plena praia
Ali a 10 metros do mar em maré cheia
e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer:
porra, finalmente o rio desaguou!
Vão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma,
tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho?
Vou deixando pequenas mensagens sobre determinados conceitos."

Podemos dizer, talvez, que o livro está dividido em 5 partes: o muy nobre prefácio, de que muito agradeço e que muita honra e consideração me dá, a introdução e três capítulos, um destes a práxis e conclusão.

[voltar ao início]

3. VISÃO

Na visão tento discorrer sobre alguns conceitos que parecem urgentes e no fundo são quase referências/indicações conceptuais, sem as tornar fundamentais ou absolutas, é um certo olhar, processar, sentir, projectar, talvez, também, pressentir.

Nesta terceira parte, ou melhor, no primeiro capítulo, intitulado por “Visão” discorro sobre quatro conceitos que me parecem dar mais tons à discussão política ou pública, ou até em meios sociais nossos, que nos chegam, que participamos. Mais uma vez, não quero tornar fundamental ou absoluto. Mas enfim, é um pensamento com um certo critério ainda que extremamente subjectivo.

[voltar ao início]

3.1 LINGUAGEM

O primeiro conceito do primeiro capítulo é um tanto diferente dos outros, porque se foca na linguagem, como meio que escrevo no livro, mas também observando que quase tudo à nossa volta se organiza através da linguagem: sistema jurídico e de estado, financeiro e económico, educacional, saúde, engenharia, tecnologia, etc.

Pequena reflexão:

Agostinho da Silva - nascemos estrelas de ímpar brilho; em Educação de Portugal
Grada Kilomba - não nascemos diferentes a sociedade é que nos vai diferenciando;  em Memórias da Plantação

E o quanto paradoxal parece ser a língua, pelo menos, com alguma segurança a nossa, se pensarmos em transconceptualidade talvez consigamos ter um entendimento maior sobre a linguagem, vejamos a seguir.

[voltar ao início]

3.2 TRANSDISCIPLINAR

O desafio da transdisciplinaridade passa por certa forma, também, rejeitar as disciplinas como nos são expostas, sugere a significação subjetiva (compreensão e esclarecimento através das suas subjectividades) do eu através da interação com o social e o meio.

Sugere que as várias disciplinas que nos são apresentadas como distintas, com regimes de verdade próprios, técnicas e fundamentos, os quais se opõem, delimitam, recortam, diferenciam, justapõem, mas marcam, também elas, um certo tempo comum, um certo saber comum de práticas e técnicas comuns.

Pegando agora aqui no prefixo trans, que não é abordado neste livro nestes termos, mas que queria trazer o quanto antes para cima da mesa, que tem a ver com aquilo que falei à pouco, a transconceptualidade, mas também a transdimensionalidade o entendimento de algo que está como verdadeiro falso quando sujeito por vários regimes de verdade/autoridade. 

Assim, talvez nos seja permitido agirmos para lá da possibilidade dicotómica de verdade/falso, algo só é verdade/falso se houver um regime de verdade ou de autoridade que vai definindo o que é verdade ou falso.

[voltar ao (6.1) TÍTULO: PRESIDÊNCIA E PAÍS - ESTADO]

[voltar ao início]

3.3 EMANCIPATÓRIA

A emancipatória surge quase por sufoco das pesadas condições materiais e do discurso hegemónico como necessidade de fugir, alegando “bem, as coisas são como são”, “tão aqui os melhores”, “fazemos o melhor”, …, e, portanto, rejeitando estas narrativas trazer a miséria que existe para cima da mesa, para o discurso.

Assumir que é preciso acabar com toda e qualquer violência, qualquer guerra, fome, migrações forçadas, excesso de trabalho, fracas condições materiais, falta de tempo, comida pouco nutritiva, qualquer tipo de assédio.

Sugiro o tempo livre como arma para derrubar o sistema, com muita dificuldade, e sem grande certeza, mas é importante ver e ir para lá dos limites e das fronteiras e ver e sentir como estas atuam.

[voltar ao (1.1) PORQUE ESCREVI UM LIVRO]

[voltar ao início]

3.4 HORIZONTALIDADE

Entro num debate sobre igualdade e diferença sem necessidade de alguém valer mais ou menos, que não acredito que privilégios definem o ser, que ninguém merece mais, ou deve mais, ou vale mais ou menos.

Julgo e aqui o digo com clareza: toda a hierarquia, formal, informal, de estado, de capital, social, institucional, é ficcional. A materialidade e a imaterialidade, e tudo o que está para lá desta dicotomia (qualquer coisa que isso possa representar - até conceptualmente), é tudo isso no mesmo animal, na mesma pessoa e tudo isso é incomensurável, impassível de ser medido, de haver métricas. Se criarmos métricas para distinguir, diferenciar estamos a fugir a essa incomensurabilidade, parece-me que, estamos sempre a ficcionar algo.

[voltar ao início]

3.5 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO I

Portanto, com estes quatro elementos, que não têm a pretensão nem de ser absolutos nem fundamentais, são subjetivos, e talvez até paradoxais, tento guiar as palavras seguintes.

Através da linguagem um caminho a fazer-se, que se faz e que se vai fazendo, nessa perspectiva e construção trans, quase de desobedecer, de olhar para onde dizem que não se pode olhar, emancipatória, há algo mais que esta miséria e acabar com toda e qualquer violência, vivermos em harmonia, talvez mais simbioticamente, seja lá bem o que isso for.

Horizontal, sem hierarquias pois elas servem os assédios, acumulação, as sobreposições sobre uns e outros, nos coloca todos contra todos, regimes de verdade e autoridade que dizem quem se aproveita de quê e de quem, quem faz o quê para que nada mude. Horizontal em que todos valemos o mesmo, não há cá divisões.

No meu entender a base do machismo e patriarcado, do racismo, do homofobismo, do capacitismo, da loucura, da criminalidade, dos emaranhados burocráticos, assédios, violações, agressões, exclusões sociais, têm como fonte comum um pressuposto hierárquico em quem, naquela posição, e naquele isolamento factual (consideração de um conjunto limitado de factos e exclusão de uma infinitude de factos e saberes que compõem a nossa visão sobre esse tal isolamento factual), do opressor sobre o oprimido, ainda que ao longo da vida todos nós já tenhamos sido opressores e oprimidos e muitas delas ao mesmo tempo.

É com esta visão, e também sobre estas contradições, que tento falar os temas no (4.) SOBRE.

[voltar ao início]

4. SOBRE

4.1 DIGNIDADE E EXCLUSÃO SOCIAL

Tento descrever uma espiral de inacessos, potencialização da violência formal, informal, do capital, do estado, social, também, da vida por assim dizer, e desses mesmos inacessos.

Nos ensaios, cristalizo algo como o seguinte: “Se temos uma classe de alta burguesia que tudo faz para acumular mais, seja através de ilegalidades ou da legalização da imoralidade, não pode parecer estranho que uma minoria das pessoas em exclusão social se projete no crime”.

[voltar ao início]

4.2 EDUCAÇÃO E CONHECIMENTO

No capítulo da educação, falo da ideia no século XVIII e tento trazer o que se mantém na escola até hoje. Dou o exemplo da Escola da Ponte, criada pouco tempo após 74, em Santo Tirso, em que não havia turmas, classes, disciplinas, horários, testes, avaliações, nem a relação sólida professor-aluno, em que o primeiro é o detentor do conhecimento o segundo aquele que deve estar sujeito ao seu ensinamento e avaliação. Naquela escola entende-se, ou entendia-se, que os alunos são igualmente fonte de conhecimento. Há alguma documentação e conversas sobre isso, quem ainda não conhece pode sempre procurar por “Escola da Ponte”, “José Pacheco”, um dos seus fundadores.

Uma pequena nota que deixo aqui: o início da massificação da escola, no seu propósito de alfabetizar as massas, ocorreu, em cada tempo e em cada lugar, na medida em que era útil para força produtiva, em cada tempo e em cada lugar. A partir do momento em que a força de trabalho passou a exigir conhecimentos de escrita e de leitura, em certos tempos e em certos lugares, procedeu-se, em certos tempos e certos lugares, à alfabetização.

[voltar ao (4.4) CRIME E (RE)INTEGRAÇÃO]

[voltar ao início]

4.3 ECONOMIA E TEMPO

Neste ponto tento lançar dados sobre como podem as coisas ser diferentes, falo de impostos globais, mas indiciando a inutilidade dos impostos europeus sem aqueles. Que pode haver transferências de dinheiro de um momento para o outro, que podem haver impostos globais extraordinários, que dentro de uns certos moldes poderia trazer melhorias de condição de vida e não se faz porque não se quer.

Mas mesmo essa questão dos impostos, enquanto instrumento de estado - regime disciplinar -  pode e deve ser posta em causa, assim como as estruturas dicotómicas de crédito/débito bem/mal (culpa).

[voltar ao início]

4.4 CRIME E (RE)INTEGRAÇÃO

Não tenho grande coisa a dizer. Apenas que se continuam a construir mais prisões, mais crime, e isso não é por cada culpa individual.

Um entendedor da linguagem jurídica, que o leia, parece-me que pode tirar ideias para umas defesas pela inconstitucionalidade de mandar quem quer que seja para a prisão.

A cada pessoa que é presa é o sistema de exclusão, transdimensional, transdisciplinar, material e imaterial que se reforça. O Estado (os governantes) precisa de manter a criminalidade e a exclusão social para se manter nas contradições entre os governados.

Talvez seja possível fazer uma interpretação do parágrafo final da (4.2) EDUCAÇÃO E CONHECIMENTO com a forma como a esperança média de vida foi aumentando, com médicos e hospitais, certamente, mas também com o crescimento de outras instituições do Estado: mais prisões - crianças institucionalizadas, manicómios, prisões e lares.

[voltar ao início]

4.5 SAÚDE MENTAL

Sobre a saúde mental também remeto para a leitura mas afirma aqui que a patologização: um médico identificar, diagnosticar, atribuir, uma doença é também uma relação de poder. 

É uma conceptualização altamente reforçada por dispositivos de estado e de capital, ou hierárquicos que nos desvia, segundo um regime de verdade, que se impõe quotidianamente, para lá do aceitável, do anormal, do capaz, etc. Como se não fossem essas próprias estruturas, de estado e capital, que nos colocam os problemas, sujeitos a uma possível patologização, afastando-nos da alteração das estruturas que nos sujeitam à patologização. Uma espécie de força centrípeta, como fala António Pedro Dores, no Reeducar o século XXI: libertar o espírito científico.

[voltar ao início]

4.6 NATUREZA E SUSTENTABILIDADE

A mim, parece-me que o foco nas touradas para a libertação animal não é o foco, há milhões e milhões de vida animal, e nós também somos animais, que vivemos em espaços pequeníssimos, insalubres, uns por cima dos outros, alimentação à base de químicos, os animais para ser comidos são injectados para incharam, que comemos, e produzimos para os ecossistemas.

Então foco-me na cadeia produtiva e distributiva como principal foco da violência animal, habitamos todo esse ecossistema de violência, de ansiedades e tensão permanente. Que nos afecta a nós humanos-animais.

Reforço que não há existência animal sem interferência no meio ambiente, nos ecossistemas, mas que deve ser cuidada e respeitosa.

E não, não é numa visão humanista, é na compreensão que não somos mais que o meio que nos gera e nos mantém. Habitamos aqui todos, fazemos todos disto a nossa casa. E o respeito pelo animal e não animal, pelos seres vivos e pelos recursos naturais, são imensos, e não há aqui um plano hierárquico também.

[voltar ao início]

4.7 RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Falo da conquista da paz, do desarmamento multilateral, falo da falência moral do Ocidente face aquilo que preconiza pelo mundo fora.

Sugiro que talvez que as fronteiras sejam redesenhadas, reentendidas, que não sejam instrumento de divisão, a identificação seria algo como cultural, não através das fronteiras - regimes disciplinares - . Não dos acessos, ou faltas deles,  às condições de vida.

[voltar ao (1.1) PORQUE ESCREVI UM LIVRO]

[voltar ao início]

5. PRÁXIS E CONCLUSÕES

Não tentei com o livro impressionar os intelectuais da praça, uns objetivos dele é traduzir esse saber deles para uma linguagem simples, ao mesmo tempo que desconstrói a ordem moral vigente e disciplinar de algumas áreas do saber, tentando olhar de uma perspectiva horizontal e transdisciplinar, tentando romper a visão dominante, também, com uma visão emancipatória.

Ele também não se apresenta com nenhuma ortodoxia, não deve fidelidades a nenhum autor ou corrente ideológica, a nenhum grupo político, padrinhos o que quer que seja. Penso que é algo que se dirá como “papo-reto”.

Isso pode enganar os incautos, nesse sentido: de rejeição do estado atual das coisas ele foi o meu melhor esforço para ser entendido por todos, não os intelectuais, não os politizados, não nenhum clube, mas ser entendido por cada um, para lá das gavetas onde estamos inseridos, sem agradar a um ou a uns clubes específicos por necessidade, e rejeitar quase por absoluto quase tudo como está disposto e que nos traz violência.

Apareceu uma pessoa na minha vida que com a qual falamos muito, já um bom par de meses, nem sempre no sentido escacar pedra, mas numa permanente aprendizagem sobre as dimensões e transdimensões da nossa vida e dos nossos interesses, do nosso meio, dessa intersubjetividade, do eu, do outro, como um outro eu, das relações e dinâmicas de poder, dos regimes de verdade, da vigilância, da monitorização do controlo, do tempo, do material e do imaterial e do para lá disso e tem sido muito enriquecedor, essa pessoa é a Ivânia, uma pessoa muito especial, muito lutadora, desafiante, com pensamentos incríveis. Eu penso que neste momento queria até falar de outros temas que acho importantes, como a monitorização, vigilância e controlo, informática, aprofundar a questões excludentes, dicotómicas, taxionómicas, que reproduzem a exclusão das forças hegemónicas, mas vou dando umas luzes por aqui.

Mas é isso, parece-me importante que consigamos fazer sempre esse caminho, horizontal, emancipatório e transdisposto, que não precisemos de subir, que caminhemos sempre no chão a olhar uns para os outros, a cuidar uns dos outros, e sim que tenhamos a mira apontada para a presidência, porque com as nossas vidas nao se brinca, e eu não tenho nenhum saco para os cavalos que se estão a pôr na corrida. 

Esse caminho nesses termos pode transfigurar tudo: a eleição, ou condição de eleição, porventura, porque esse caminho é transformativo e não para conseguir e conservar um cargo. É precisamente para desconstruir as hierarquias, não haver chefes, não haver donos - viemos sem nada, vamos sem nada, tudo é daqui. 

E portanto também esses arranjos institucionais, sejam políticos, judiciais, educacionais, formais, públicos, privados, monetários, que promovem algum tipo de hierarquia seja abolido, que vivamos em sintonia tal que ninguém precisa de estar a obrigar e ser obrigado a proibir e ser proibido ninguém. As pessoas não são parvas.

[voltar ao (1.1) PORQUE ESCREVI UM LIVRO]

[voltar ao início]

6. DISCUSSÃO DO LIVRO PÓS-LANÇAMENTO: BREVES APONTAMENTOS

6.1 TÍTULO: PRESIDÊNCIA E PAÍS - ESTADO

Eu quero muito apontar a mira para a presidência da república, nestes termos que vou expondo, penso que isso fará abalar o sistema. Daí o meu reforço no título “presidência” e “país”. Também não quis enganar possíveis leitores, há mesmo uma chamada à ação. “Sem amos” vem então derrubar o mesmo o próprio conceito de “país” e de “presidência”. Duplo problema, os sabidos vão fixar numas coisas para distorcer, e os incautos vão ficar inertes. É um paradoxo, é uma contradição nos termos, se quiserem, é uma provocação.

Se relermos o ponto (3.2) TRANSDISCIPLINAR não podemos afirmar com tanta segurança que o Livro é, segundo uma interpretação oportunista, algumas palavras do seu Título. Não me tomem só por ingénuo.

Então o que é o Estado, para lá das definições de cada disciplina ou mesmo inter-disciplinares ou multi-disciplinares? Qual o Estado, que o meu ponto subjectivo, me sugere aproveitar?

Será, algures, aquele em que é composta por uma rede de relações humanas e não humanas, animal e não animal, e recursos naturais que se regeneram, são potencialmente infinitos, onde vivem se relacionam através de códigos e rituais, mais ou menos impostos, mas parece-me mais para o mais. 

Há, pois, ou depois, ou antes, uma superestrutura, ou correntes hegemónicas, que não são Estado nesta acepção, mas que governam (hetero-governação), também através da estrutura de estado, mas numa estrutura para lá dela. Auto-governam-se nessa superestrutura, ou corrente hegemónica. Essa hetero-governação, que coloca uma situação de governantes/governados vem através do controlo, atualmente da monotorização do corpo, do controlo da alma e dos saberes, da imposição de regimes, através da culpa individual, do maniqueismo (bem e mal), que é uma estrutura de pensamento dicotómica, assim como binarismo (0’s e 1’s), do controlo do tempo, o débito/crédito, dos acessos, etc.

Mas essa rede de relações humanas não deixa de existir. Cada uma das células desta rede está sobrecarregada, sobre óticas disciplinares, cada uma está como peça de uma mecânica, que a coloca a fazer uma função, pré-arranjada, funcional, que mantém a estrutura tal e qual como está, e, portanto, que nos oprime também.

O estado são as pessoas todas e o que nós quisermos fazer com a nossa organização coletiva do tempo, da produção, da distribuição, dos acessos, da criação, para lá dessas imposições disciplinares.

[voltar ao (1.1) PORQUE ESCREVI UM LIVRO]

[voltar ao início]

6.2 DE CIMA PARA BAIXO / DE BAIXO PARA CIMA - HORIZONTALIDADE

Os mais dogmáticos dirão: “se há presidência será de cima para baixo”, “eles são todos iguais”, “farão tudo a mesma coisa”, “querem usar-nos”. Isto parece-me uma demissão absoluta da responsabilidade que a candidatura presidencial, e os próprios regimes e dissidências, que por aqui ocorrem, dada a imparidade da possibilidade de haver pessoas candidatas sem crivo partidário, nem descendência monárquica. 

Não que seja o alfa e o ômega, mas não têm grande interesse as ideias soviéticas, anglossaxónicas, ou mesmo as restantes latinas europeias. É verdade que Presidentes como Lula (nos seus primeiros mandatos), ou mesmo Mujica, foram bastante populares, mas também é certo que as estruturas de estado não foram abaladas.

Na verdade, todos aqueles que rejeitam esta excepcionalidade. Que rejeitam que se houver um grande movimento popular - porque é isso que é defendido -, que ocorra em todas as áreas e todos os setores, que ocorra no ser e no estar de cada um de nós e de nós todos - animais, plantas, e todos os outros recursos de que fazemos parte (ar, terra, água, …). Sem ser bloquear, ainda não fizeram nada para que a emancipação, libertação, acontecesse - aí estamos iguais.

Ver excertos já publicados.

Voltando e concluindo, não é de cima para baixo nem de baixo para cima, é um movimento, é horizontal, e desconstruidor dessas ópticas de estado e capital, por todos, mira apontada para Belém, ocupar para transfigurar.

[voltar ao início]

_______

Excertos já publicados

Sendo muito crítico da construção liberal é nela que existe, assumidamente ou não, o maior consenso em Portugal sobre a organização social, a forma de eleição, de composição de alguns poderes, amanhã pode ser diferente e não há datas certas para revoluções. Apesar de parecer ser difícil a mudança de discurso, uma brecha parece ser aberta na Presidência da República, um cargo pelo qual os movimentos sociais e as pessoas poderiam lutar e que levasse a uma nova interpretação da constituição, progredindo até no avanço institucional caso seja a vontade das pessoas que vivem em Portugal.” - em Introdução, Pequenos Ensaios de uma Presidência para um País sem amos

Na prática é a própria sociedade imposta que nos vai colocando em hierarquias sociais.
Acredito que uma sociedade livre o é também de hierarquias, onde todos contribuímos irmamente para o desenvolvimento dos nossos locais e do mundo.
Absorvidas nas estruturas vigentes, as pessoas com que tenho este tipo de conversas perguntam-se se esse cenário representaria um caos. Talvez o caos seja isto mesmo, neste mundo onde há gente que vive com menos de trinta euros por mês, onde pessoas vivem em plenos teatros de guerra ou onde muito de nós são obrigados a sujeitar-se a profissões em que não somos tratados dignamente nem lhes é possível ter uma vida minimamente confortável, sob a pressão de que, sem aquele trabalho, o cenário pode ser ainda mais catastrófico.
” - em Horizontalidade, Pequenos Ensaios de uma Presidência para um País sem amos

A ideia será sempre, de minha parte, a construção de um mundo onde ninguém valha mais do que ninguém, que ninguém tenha mais privilégios do que ninguém, que todos vivamos com total dignidade, em sociedades altamente desenvolvidas.” em Práxis e Conclusões, Pequenos Ensaios de uma Presidência para um País sem amos

Estes pequenos ensaios não prescindem de todas as atividades que têm sido feitas e venham a ser feitas pelos coletivos, associações, etc. Eu, tudo que escrevi, foi resultado de todas as minhas interações, lugares e tempos que me moldaram. Todo esse trabalho tem sido e continuará a ser importante. Sei que quanto mais pessoas trabalharem nisto, quantos mais sonharmos, mais a eleição que construirmos pode ser possível e assim ficarmos mais próximos da emancipação aqui defendida.” em Práxis e Conclusões, Pequenos Ensaios de uma Presidência para um País sem amos

O comprometimento da presidência com a maior parte das pessoas que é violentada e oprimida poderia levar a uma mudança de discurso no país (...) Permitirá também que a máquina do estado não ande em roda livre para reprimir a emancipação. Não irá só depender da pessoa eleita, ela será um meio, como nós fomos para a sua eleição, e continuaremos a ser para a construção de lugares justos e livres à nossa volta” em Práxis e Conclusões, Pequenos Ensaios de uma Presidência para um País sem amos

Quem não se revê nas práxis partidárias não deveria ficar arredado da participação política, nem a sua vontade política ficar relegada para um plano de protesto.” em artigo “Que Presidência?”

Mas, o campo político e o lugar da Presidência da República, deve ser altamente disputado por quem quer e sonha um futuro seguro de liberdade para todos aqueles que aqui vivem.” em artigo “Que Presidência?”

Acho que aqueles que se sentem violentados podem começar a desenhar essa Presidência, se esperarem muito ser-nos-á entregue pelas forças partidárias.” em artigo “Que Presidência?”

[voltar ao (6.2) DE CIMA PARA BAIXO / DE BAIXO PARA CIMA - HORIZONTALIDADE]

[voltar ao início]





Comentários