rezo pela vida dos que chamo de "meus"
deixando de parte aquela que realmente me pertence
o eu mais bonito é aquele que não negocio
mesmo que a ela, todos os dias, eu renuncie
encontro-me na luta pelo reencontro da identidade que um dia me pertenceu
sabendo bem que já não existe esse meu eu
essa pessoa eu já fui e já não posso ser mais
mesmo que me doa não me saber ver pelos meus olhos
e apenas me conseguir ver pelos dos demais
deixei-me ir pela fala suja de terceiros
de quem não sabe o que é andar nestes sapatos
sapateei por ideias alheias do que é estar em segundo
na própria vida desta com a qual acordo
deito-me com o meu eu mais sombrio
a quem não dou retorno
e por ignorá-lo tanto
passeio pela escuridão deste jardim sem flor
toda a manhã é um desafio ao qual aperto a mão
(sobre)viver nesta casa é tarefa para bom jogador
olhar no espelho aquela que tanto odiei e
por tantos anos lutei contra
só para voltar à terra com o entendimento
de que por ela tanto sangue por aqui deixei escorrer
passam as horas
passam os dias
piso as pedras
escorrego na lama
para depois de um dia difícil voltar para a mesma cama
Maria Inês
Dezembro 2025

Comentários